Em meio à necessidade premente de avanço na pesquisa clínica, o Brasil enfrenta um cenário desafiador. De acordo com um levantamento da Interfarma em 2022, o país ocupou o 19º lugar no ranking global de participação em estudos clínicos iniciados no ano anterior, representando apenas 2,3% do total.
Entretanto, as potencialidades do Brasil para se tornar um protagonista nesse campo são inúmeras. Com uma população diversificada, recursos humanos qualificados e um sistema regulatório reconhecido na América Latina, temos todas as ferramentas necessárias para brilhar na pesquisa clínica.
Globalmente, a oncologia lidera as áreas terapêuticas mais investigadas, seguida por doenças infecciosas e condições do sistema nervoso central. Excluindo as doenças infecciosas, estas áreas representam 37% de todos os estudos clínicos iniciados em 2021.
No entanto, o desempenho brasileiro nessas áreas é modesto. Em oncologia, por exemplo, o país participou de apenas 2% dos estudos iniciados em 2021. Esses números destacam a urgência de aumentar a presença brasileira em áreas cruciais da pesquisa clínica.
Um dos principais trunfos do Brasil é sua diversidade étnica, que possibilita a realização de estudos abrangentes e representativos sobre as especificidades genéticas e fisiológicas de diferentes grupos populacionais. Essa pluralidade é um recurso valioso que pode resultar em descobertas mais relevantes e aplicáveis globalmente.
Além do impacto na saúde, investir na pesquisa clínica pode impulsionar a economia, gerar empregos e estimular a inovação. Estimativas da IQVIA sugerem que se o Brasil subir para a 10ª posição no ranking mundial, poderá beneficiar 55 mil pacientes e atrair investimentos diretos anuais de R$ 2 bilhões, além de impactos indiretos na economia na ordem de R$ 5 bilhões.
No entanto, enfrentamos desafios significativos, como a concentração de estudos clínicos no Sudeste e no Sul do país. Esse desequilíbrio precisa ser abordado para garantir uma distribuição mais equitativa dos benefícios da pesquisa clínica em todo o território nacional.
Felizmente, já existem iniciativas para descentralizar a pesquisa clínica, com a criação de redes de centros de pesquisa em outras regiões do Brasil. Essa estratégia não apenas atrai mais investimentos, mas também promove a diversificação geográfica, impulsionando o desenvolvimento científico e tecnológico em todo o país.
É evidente que o Brasil não está atingindo seu potencial máximo na pesquisa clínica, o que tem consequências não apenas para a saúde, mas também para a economia e o desenvolvimento nacional. Com investimentos adequados e políticas públicas eficazes, podemos nos posicionar entre as principais nações impulsionadoras da pesquisa clínica, colhendo os benefícios não apenas para a saúde, mas para toda a sociedade brasileira.